... um menino chamado E... que vivia no Reino das Palavras Soltas.
No Reino das Palavras Soltas havia uma flor chamada Malika Moura, em honra da Deusa Moura que ajudou a salvar Malika a Doce Princesa do Reino.
A Princesa tinha sido raptada pelo Inquisidor-Mor do Reino das Palavras Prisioneiras e estava presa no topo da orelha de um Drasupalador - dragão sugador de Palavras.
Malika a Doce Princesa, gostava de cantar logo pela manhã Palavras novas, que corriam e escorregavam pelas cores do arco-íris à espera do beijo mágico que só os meninos e meninas possuíam. Era assim que nasciam as histórias de encantar.
O Reino das Palavras Soltas era alegre, ameno, cheio de cor.
O Reino das Palavras Prisioneiras era frio, cinzento e tudo era triste.
O Inquisidor-Mor queria casar com Malika a Doce Princesa, mas ela recusava-se porque o seu coração pertencia a EVras, da famíla dos Encantadores de Palavras.
Vingativo, o Inquisidor-Mor fez um pacto com a Deusa Tacanha Mázinha. Em troca da sua ajuda para raptar e casar com Malika a Doce Princesa, o Inquisidor faria dela a Rainha do Reino das Palavras Soltas.
EVras partiu para salvar a sua Doce Princesa com a ajuda dos poderes felizes da Deusa Moura.
O Drasupalador não conseguiu sugar as Palavras Encantadas de EVras e a Deusa Tacanha Mázinha morreu engasgada. O Inquisidor-Mor vive ainda hoje com os seus 375 anos, exilado no fundo do Poço dos Sem Coração.
Malika a Doce Princesa casou com EVras e a Deusa Moura foi a madrinha que deu como presente a mais bela flor alguma vez vista no reino. Os noivos deram à flor o nome de Malika Moura. Esta flor era especial, pois continha em si o poder de realizar o desejo do primeiro filho de Malika a Doce Princesa e de EVras.
O menino E... gostava de deambular pelo reino em dias de sol dourado, em dias de chuva prateada e em dias em que o sol e a chuva passeiam de mãos dadas e brincam às escondidas com as nuvens.
Num desses dias ouviu o vento a sussurar baixinho o seu nome.
- "Sim vento, precisas de alguma coisa?", perguntou E...
O vento responde: - "E... eu tenho um sonho, o sonho de assobiar Letras... eu também quero fazer alguma coisa pelas Palavras como fazem:
o sol, que aquece as Palavras Soltas;
a chuva, que dá banho às Palavras quando elas regressam, das suas cavalgadas, cheias de pó;
a terra, que planta Palavras que ganham raízes e perduram de estação em estação.
E eu, gostaria de assobiar as Letras e assim formar Palavras, fazer frases, criar textos, pôr as Letras das Palavras a dizer poesia e depois empurrar estas Letras Assobiadas até aos 4 cantos do mundo. Podes ajudar-me?"
- "Amanhã vem ter comigo, logo pela manhã, ao Jardim dos Sons, vou ver o que posso fazer por ti.", repondeu-lhe E...
O sol espreguiçava os seus primeiros raios e lavava o seu sorriso com gotas de chuva, quando o vento apareceu.
E... estava à sua espera junto da Árvore da Vida e da Sabedoria, nas suas mãos tinha a mais bela flor do reino, Malika Moura!
A Deusa Moura apareceu a cavalgar num lindo xi-coração e disse:
- "E... tens de dar um beijo mágico à flor, formular o teu desejo e plantá-lo na terra."
O menino E... olhou para os pais que deram permissão para continuar.
A terra cantou, a chuva chorou, o sol brilhou e o vento pela primeira vez assobiou...
A flor, qual sapo encantado, transformou-se na mais bela menina do reino.
A terra cantou mais uma vez e deu à luz uma bela flor.
A mais bela menina, Malika Moura, que agora já não era flor, teve de dar um nome à flor nascida da terra. Chamou-lhe Letras Assobiadas...
No Reino das Palavras Soltas E... e Malika brincam com os sorrisos do vento.
O vento assobia e sopra sementes de Letras Assobiadas...
e foi assim que eu nasci...
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Ilustrações de Alex Noriega